Falar de Bipolaridade em plena pandemia, parece quase que ridículo. Mas dia 30 foi o Dia Mundial do Transtorno Bipolar e acho que vale a pena falar um pouco de como tem sido com a quarentena e outras coisas mais.
Não existe essa de se ter orgulho de ter bipolaridade, porque muitas vezes parece um fardo ter a doença. Posso dizer que sinto orgulho da minha luta diária, das coisas que já passei e por quem eu me tornei. É um aprendizado constante, vigilância 24/7.
Antigamente eu achava tudo isso um exagero quando lia os relatos das pessoas estáveis, mas hoje eu entendo. Não se pode dar bobeira, porque qualquer deslize podemos cair numa armadilha.
Se eu pudesse falar algo para alguém recém diagnosticado seria: aceite tudo isso logo. Aceite e procure fontes confiáveis para saber sobre a doença – livros ou profissionais da saúde. Eu já até vi psicólogos que não entendiam exatamente o que é o transtorno, por isso muito cuidado. Quanto mais você se conhecer, melhor. Depois converse com as pessoas que são sua rede de apoio. Explique exatamente o que você passa ou pode passar. É muito importante esse esclarecimento.
Nós somos muitos pelo mundo, mais de 140 milhões. Mas as vezes me sinto um alienígena e invisível. Isso porque estou falando do número de pessoas diagnosticadas, né? Tem aquelas pessoas que vivem sem saber que sofrem do transtorno. Todos os dias eu agradeço por saber do meu diagnóstico e por estar em tratamento, porque antes era tudo muito pior. Minha ansiedade era sempre no máximo e as oscilações de humor eram descontroladas.
Logo, não encare o diagnóstico como um rótulo ou um fardo para carregar e, sim, como uma libertação. Dessa forma você poderá se conhecer por completo, entender o que realmente acontece com você, pois eu sei que muitas vezes você ficou se sentindo perdido dentro da sua própria mente.
E sobre a quarentena, tem sido desafiador me manter sã. Pra minha sorte a faculdade manteve as aulas online e tenho mantido a minha mente bem ocupada com os trabalhos. Mas confesso que ando travada com o resto da rotina.
Essa semana mesmo tiveram dias bem lixo, onde fiquei na cama, sem fazer nada, só olhando pro teto e escutando The National. Não tomei banho num dia, mal comi no outro. É claro que bate uma preocupação geral, minha e da minha mãe. Mas o lance todo é continuar a rotina e não deixar afundar. Hoje levantei disposta a fazer diferente, assisti à minha aula e fiz coisas em casa, mesmo me arrastando. Conversei com amigos e lavei o cabelo. Me senti melhor? Um pouco. Existem 2 sentimentos que vêm com a depressão: culpa e vergonha. Por isso me empenho em ser produtiva, isso me faz sentir orgulho de mim, mesmo que angustiada.
Criar uma nova rotina é a maior lição que tirei dessa quarentena. Hora pra tudo. Pra acordar, pra comer, pra estudar, pra jogar videogame. Somente dessa forma eu não estou afundando por estar sem a minha rotina habitual. É claro, tento me dedicar a coisas produtivas como a faculdade e o curso que me inscrevi, assim não me sinto de férias o tempo inteiro. Mas ao mesmo tempo faço o que posso, sem cobrar perfeição.
E, por último, mas não menos importante, tento não me isolar das pessoas. Virtualmente, é claro. Tem sido difícil para todos e manter contato é muito importante. Engraçado que eu conversei com pessoas nesse período com quem eu não conversava há meses.
Continuem se cuidando, cuidando dos seus e lavando as mãos e os sacos de arroz. Isso vai passar.
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