Não vou negar que assim que comecei meu tratamento psiquiátrico pensei muito nos efeitos colaterais dos medicamentos. No início eu lia as bulas, mas depois parei, pois não faz bem lê-las em busca de futuras complicações por causa das implicações do seu uso. Leio as interações medicamentosas, porque essas, sim, são importantes de serem sabidas.
Não estou falando que é pra ignorar ou que é fácil aceitar os efeitos colaterais de um medicamento psiquiátrico. Ainda mais se for prescrito em uma dosagem considerável. Mas o que eu quero dizer é que se você está aceitando um tratamento, está aceitando os efeitos também, porque é tudo um pacote só. Não existe tratamento psiquiátrico sem consequências. Simples assim. Seja somente um antidepressivo ou ansiolítico em dosagens baixas, vão existir seus efeitos.
É claro que cada metabolismo reage de maneira diferente. Por exemplo, quando tomei Lamotrigina não apresentei as famosas erupções cutâneas, mas tive muitas dores musculares quando atingi uma determinada dosagem. Dores insuportáveis, não conseguia correr na academia, minhas costas ficavam travadas. Mas vejo relatos de pessoas que se dão super bem com o medicamento e que ele mudou a vida delas.
Foi o caso do Lítio comigo. Assim que comecei a tomar me senti super bem e me adaptei maravilhosamente. E sofro de efeitos colaterais, porém leves e suportáveis. Ganhei peso, meu cabelo começou a cair e sofro de tremores. Para aliviar os tremores me foi prescrito um betabloqueador que me ajudou consideravelmente, mas ainda assim tremo bastante.
A queda de cabelo me incomoda muito, por esse motivo comecei a tomar um suplemento vitamínico para tentar diminuir esse efeito colateral. Ainda é cedo para falar se está funcionando, porque o ciclo celular capilar é bem longo, mas caso eu veja diferença real, irei falar aqui.
Agora o aumento de peso, que também foi ocasionado pela alta dosagem que tomei de Quetiapina durante muitos meses do ano passado, eu já não me importo mais. Já sofri demais com isso, mas em determinado momento eu parei de considerar importante essa questão, pois eu realmente coloquei na minha cabeça que estou em tratamento, que ganhar alguns quilos faz parte do processo e prefiro ganhar peso a ficar instável novamente.
A questão com o corpo, principalmente para as mulheres, é muito complicada, por isso vejo muitas pessoas que sofrem do transtorno preocupadas com essa consequência dos medicamentos. E isso é muito perigoso, pois muitas pessoas desistem de determinadas propostas dos psiquiatras por terem medo de engordar.
Sofrer de uma doença psiquiátrica é como sofrer de uma doença cardíaca ou de diabetes, é preciso tratar e entender o que esse tratamento vai acarretar. Medicamento psiquiátrico não é uma poção mágica, que conserta a nossa cabeça. É uma droga que altera a química e o funcionamento do cérebro e o nosso metabolismo, e por isso vai haver consequências e impactos no nosso corpo.
Eu já chorei muito (e ainda choro) por ter que tomar tantos remédios para conseguir viver bem. É muito frustrante às vezes pensar que tomo essa quantidade boçal de medicamentos para ser funcional, para ser apta a conviver em sociedade. Choro, mas depois me acalmo e penso que graças aos medicamentos consigo ser eu mesma e não a versão doente de mim. Porque quando estou maníaca ou deprimida, eu não sou eu mesma, vejo e ajo de maneira diferente, é o transtorno tomando conta de mim.
Logo, eu aprendi e entendi que é melhor lidar com as consequências dos medicamentos no meu corpo e na minha mente, do que ficar doente. A estabilidade tem um preço, mas pago por ele, pois assim consigo enxergar meu futuro e ter meus pés no chão. Confio nos profissionais que cuidam de mim e sei que estão escolhendo as melhores opções. Escolho estar acima do peso, careca, trêmula, porém sóbria, consciente e lúcida de quem sou eu e das minhas escolhas.
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