Muitas vezes eu vejo as pessoas postando em redes sociais que estão assistindo não sei quantas séries ou que assistiram não sei quantos filmes ou que leram toneladas de livros. Bem, essa é a parte mais frustrante do Transtorno Bipolar.
Eu estou em plena fase de estabilidade e mesmo assim minha concentração, minha capacidade cognitiva, é debilitada e não consigo consumir conteúdos da maneira que eu gostaria. Trabalho demais isso na terapia, sobre aprender as minhas limitações e entender o meu processo, mas eu me sinto muito frustrada, pois quando mais nova eu li mais de 60 livros num ano.
A vida tem sido muito mais leve e gentil, mas a minha rotina é totalmente funcional. O meu lazer, ultimamente, tem sido somente com outras pessoas. Quando fico sozinha, eu não sei o que fazer e me bate uma ansiedade paralisante. Tento ler um livro, não consigo. Tento ver televisão, não consigo. Logo, começo a limpar a casa ou saio pra caminhar no parque escutando música.
Essa semana comecei um trabalho novo e é completamente braçal. Durante meus turnos não checo redes sociais, nem mesmo abro mensagens de Whatsapp ou Telegram, e isso tem sido maravilhoso. Chego em casa exausta, só querendo um banho e colocar o pé pra cima.
No entanto, hoje tive meu primeiro dia de folga e fiquei perdida, sem saber o que fazer. Como diria meu psiquiatra: eu não sei relaxar. Fiquei zapeando pela televisão e desisti de ficar no sofá. Comecei a arrumar a casa, pra variar. Mas eu parei pra pensar em como eu estava cansada e com os músculos doloridos por causa do meu treinamento e percebi que toda essa ansiedade vem de uma ânsia antiga minha, é só ler esse texto aqui de setembro de 2016.
O curioso de reler esse texto é que ele é muito atual. Eu poderia republicar como algo de agora, porque é bem como me sinto. Existem algumas diferenças entre a Aline de 2016 e o que sou hoje em dia. E acho que a mais importante é a maturidade para se dar tempo e ter compaixão por si própria. Na época, eu era ligada no 220, queria tudo pra ontem. Hoje sei que não existe nada dentro da esfera da saúde mental que aconteça da noite para o dia. Tudo leva tempo e é preciso respeitar isso.
Outra diferença importante é que hoje sei que essa situação, essa falta de concentração, até mesmo de interesse, não é exclusividade minha, não sou uma alienígena por isso. Isso acontece por causa do transtorno. Não por falta de esforço ou porque a minha medicação não está adequada. Eu ainda estou num processo de cura.
Eu digo isso, porque não existe cura para o Transtorno Bipolar, porém, existe para os traumas que sofro. E sofrer uma tentativa de suicídio é uma baita de um trauma. Confesso que por muitas vezes eu minimizei a situação, achando que eu estava bem, mas a verdade é que demora muito para os cacos voltarem pro lugar. Minha autoconfiança, minha autoestima, minha capacidade de sonhar. Tudo estava em pedaços e demorou muito pra eu me sentir eu mesma de novo. Demorou em torno de 1 ano e, ainda assim, sou uma pessoa diferente de antes do acontecido.
Por isso, escrevo hoje sobre todas essas coisas pra dizer que está tudo bem, mas ainda não consigo fazer tudo o que eu gostaria. Não consigo fazer coisas simples, como ficar sozinha comigo mesma. Também ainda não consigo andar de bicicleta sozinha pela cidade, porque não confio de que eu seja capaz de me guiar sem outra pessoa pra me ajudar.
Só que a lição mais importante que aprendi ano passado foi, de fato, a compaixão. Me comparar com os outros, seja em questões cognitivas, como físicas, é furada. Eu tenho as minhas limitações, eu preciso de medicações psiquiátricas e sou o que sou. Não existe fórmula mágica, nem milagre para modificar ninguém. Me aceitar com minhas qualidades e defeitos, foi o passo mais importante para encontrar o melhor tratamento para mim.
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