Chegou setembro de 2022 e depois de tanto tempo sem escrever, consegui me imaginar fazendo isso de novo. Vários motivos me trazem aqui, mas o mais forte deles é que sinto que saiu uma névoa do meu cérebro que impedia que eu conseguisse raciocinar direito.
Acho que em maio desse ano eu descobri que, sim, as pessoas que sofrem de Transtorno Bipolar ficam com um déficit cognitivo maior a cada trauma/surto/episódio. Isso me fez fazer uma timeline da minha cognição e decidi procurar ajuda, pois eu via grandes quedas após determinados eventos da minha vida. Minha psicóloga buscou entre seus contatos de profissionais alguém que pudesse me ajudar e logo encontrei uma neuropsicóloga.
A primeira sessão foi para ela me conhecer, entender a minha queixa e ver se poderia realizar o tratamento. Fizemos uma avaliação neurocognitiva que durou em torno de 6 sessões. E no fim, foi constatado que todas as minhas queixas se encaixam perfeitamente dentro do espectro da Bipolaridade e como eu tenho essas queixas desde antes do meu primeiro episódio, em 2000, pude entender que fui uma criança bipolar.
Nesse período de avaliação, a terapeuta me orientou a tentar estímulos cognitivos diferentes da velha fórmula que eu estava tentando. Eu queria ajuda para reabilitar minha concentração e foco, já que não conseguia ver TV ou ouvir música. Eu decidi pegar as revistinhas de palavras cruzadas que eu tinha aqui e comecei a escutar podcasts. E essas coisas me desbloquearam! Agora estou viciada em diversos conteúdos de áudio e como as palavras cruzadas acabaram, estou fazendo sudoku.
(Nesse momento estou conseguindo ouvir música e escrever, o que, pra mim, é uma vitória!)
Toda essa introdução pra falar: olha o tempo que estou levando pra me recuperar da minha tentativa de suicidio, que aconteceu dia 23 de dezembro de 2019. O último livro que li inteiro, foi em janeiro de 2020, onde eu ainda estava com a química da mania dentro de mim. E pra quem não me conhece na vida real, saiba que AMO ler. E sempre que eu penso que ainda estou bloqueada para isso, me dói de verdade.
É muito frustrante quando você consegue estabilizar seu humor, depois de toda uma vida instável e quando tenta pensar, só pensar um pouco mais, você não consegue. Tentei estudar de novo. Faculdade de Design, Inglês e Dinamarques. Fiz uma tentativa do TOEFL que sou de lembrar que eu quero chorar. E depois de me colocar nessas situações em que me sentia humilhada, diminuída e quebrada, um ódio dentro de mim cresceu. Um ódio por toda a sociedade que fala que para validar quem sou eu, preciso de um diploma, de que uma carreira digna é aquela que requer estudo.
Decidi que eu ia dar um rumo novo pra minha vida e que eu ia arrumar um emprego. De qualquer coisa que me aceitassem e que eu pudesse fazer. E há 1 ano e 1 mês sou camareira do Nimb, hotel que fica dentro do Tivoli, tradicional parque de diversões de Copenhagen.
Fiz amigas muito queridas lá, gosto do trabalho e acima de tudo, esse trabalho faz muito bem pra minha saúde mental. É o trabalho que eu precisava, porque é físico, faço o que mandam e quando saio de lá, não preciso mais pensar em nada relacionado ao trabalho. É claro que tem dias mais corridos, uns pepinos pra resolver, mas no fim, sempre dá certo e posso ir pra casa de mente vazia.
Nesse meio tempo consegui focar na minha saúde corporal. O hipotireoidismo se tornou real oficial no final do ano passado e agora tenho a deliciosa rotina de tomar o hormônio 1 hora antes do café da manhã. Em junho deste ano operei a minha mão direita por causa da Síndrome do Túnel do Carpo e agora dia 20 deste mês vou operar a esquerda.
Pela primeira vez da minha vida eu me sinto dona de mim, eu me sinto eu mesma. Porque isso sempre foi um conflito por não saber se estava sentindo ou pensando algo por causa da mente instável. Mesmo muito antes do diagnóstico. Essa sensação de pensar que tem mais de uma pessoa dentro de você é muito angustiante.
Meu psiquiatra sempre fala que sou mais sensível que as pessoas sem transtorno. Mas agora eu sei que o que eu sinto em cada situação e aspecto da minha vida é verdadeiro e não um delírio do meu transtorno. É muito bom estar em casa.
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