Semana passada meus medicamentos foram todos alterados e tenho sofrido bastante com a abstinência do antigo antidepressivo.
Antes de falar qualquer coisa quero deixar registrado que simpatizo com todos aqueles que se reabilitaram e decidiram encarar a abstinência de alguma substância, principalmente de drogas pesadas.
Eu estou passando dias horríveis de tremedeiras, retenção hídrica, formigamento, tonteiras, dores de cabeça, ouvido entupido, náuseas e outras reações por causa de um medicamento legal e que está sendo supervisionado pela minha médica. Por esse motivo, quando alguém me diz que é ex usuário de drogas, eu cumprimento e digo que admiro muito sua coragem e sua determinação. Digo também pra se manter forte e que a partir daquele momento esta pessoa está registrada na minha memória como alguém para se lembrar como exemplo de superação, pois somente quem encara uma abstinência química entende o que é isso, desde os leves aos mais pesados efeitos.
Conheço poucas pessoas que admitem conhecer a sensação de uma compulsão, de um impulso incontrolável do seu corpo. Aos olhos da maioria parece simples e fácil a ideia de se reabilitar de uma química, porque o ser humano tem essa mania estúpida de achar que é capaz de controlar tudo inclusive os próprios impulsos, o próprio metabolismo.
Dito isto, posso prosseguir que além de sentir que meu corpo está em desarmonia com a minha mente, sinto que eu estou em total desarmonia com os outros.
Tive essa sensação no fim de semana onde me senti como um rádio quebrado onde tentava sintonizar uma estação, mas nunca conseguia tocar uma música sem chiados. Ou como aquela bailarina do corpo de baile que tenta fazer a coreografia, mas parecia estar escutando uma música diferente, num cenário diferente, com personagens diferentes.
Sem falar que todas essas memórias e lembranças que venho desbloqueado estão deixando a minha linha do tempo fora de ordem e estou perdida dentro do meu próprio tempo. As pessoas próximas a mim sabem que eu realmente fiquei muito estarrecida com a descoberta que a regra da vantagem do vôlei acabou há 18 anos. Dentro da minha noção de tempo, a última vez que prestei atenção num jogo de vôlei foi há uns 8 anos e não há 18.
Eu tenho feito sempre a analogia de ser uma paciente psiquiátrica com alguém com diabetes ou hipertensão. Pois são doenças incuráveis, porém controláveis. E assim como as doenças psiquiátricas, essas sofrem os estigmas da sociedade e são banalizadas porque são silenciosas que vão agindo lentamente. Doenças que erroneamente são atribuídas à determinado grupo de pessoas. Seja por idade, gênero, cor ou até mesmo classe social, quando todas estas citadas podem acometer qualquer um.
Todas essas doenças podem ser fatais caso não sejam tratadas. Uma pessoa diabética pode morrer com uma topada, um hipertenso pode morrer com falência renal ou até mesmo com algum outro órgão comprometido. Já os pacientes psiquiátricos se tratam para suportar os próprios transtornos, do contrário, se tornam loucos. E loucura é uma doença terminal. Não existe cura pra loucura. Não existe volta.
Estou falando de loucura e não de qualquer adjetivo pejorativo que é usado de maneira frívola para instabilidades, desequilíbrio ou histeria mal interpretada. Por mais que hoje em dia se use outros termos médicos para descrever e diagnosticar a loucura, o meu maior medo é de ficar realmente louca.
Por isso que venho aqui nesse blog e exponho todas essas ideias, porque acredito que uma vez que deixo meus pensamentos evidentes, eles se tornam mais compreensíveis pra mim. Também escrevo aqui porque tenho tido dificuldade de falar individualmente com pessoas, mas ainda assim eu gostaria de falar alguma coisa pra elas. Até porque muitas pessoas estão me procurando para falar do que estão lendo o que escrevo aqui e me contam suas experiências e dão suporte.
Me sinto em desarmonia em quase todas as esferas da minha vida, mas incrivelmente me sinto mais em sintonia comigo mesma como nunca antes me senti. E tenho certeza que esse é o propósito de se estar viva.
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